06/11/2011

Sexo até os 90?!


A americana Gail Sheehy conversou com mulheres entre os 40 e os 90 e descobriu que elas namoram online, compram vibrador e não têm medo de procurar parceiros mais jovens

Por Lúcia Guimarães


NUMA TARDE DA FRIA PRIMAVERA NOVA-IORQUINA, poucos encontram motivo para abandonar o guarda-roupa de inverno. Os dias começam a ficar mais longos. Durante a noite, porém, a temperatura ainda cisma em cair. Abro a porta e encontro uma loira impecável, vestida com cores vivas, capa creme e sandálias. Gail Sheehy, 68 anos, casada, mãe de duas filhas, fala baixo, tem sorriso discreto, mas tudo nela transmite vivacidade. Jornalista e escritora, lançou em 1976 o livro PASSAGENS, que vendeu 5 milhões de cópias e foi editado em 28 línguas, permanecendo por mais de três anos na lista dos best-sellers do jornal THE NEW YORK TIMES. A obra, que também fez muito sucesso no Brasil, anunciava que a vida adulta não era estática, mas uma sucessão de transições, e quem estivesse disposto a enfrentá-las teria mais chances de felicidade. Em 1992, com A PASSAGEM SILENCIOSA, Gail mudou para sempre a percepção social e pessoal da menopausa. Ela explorou também a crise da meia-idade entre os homens e, em janeiro deste ano, publicou SEX AND THE SEASONED WOMAN (Sexo e a mulher madura). Para isso, a jornalista viajou pelos Estados Unidos entrevistando americanas "entre os 40 e os 90 e tantos anos" sobre temas como ,sexo, encontros, sonhos, divórcio, novos casamentos, crescimento espiritual. Surgiu daí o retrato de uma nova mulher que, com o passar do tempo, amadurece como um vinho de boa safra – sexualizada, independente, consciente da longevidade e disposta a se arriscar. Dois terços dos divórcios de casais de meia idade nos Estados Unidos são iniciados pelas esposas. As "senhoras" descritas por Gail Sheehy compram vibrador, namoram online e, às vezes, quando os homens da mesma idade não encaram a sua energia, procuram parceiros mais jovens.

CLAUDIA – VOCÊ ACREDITA QUE A VIDA SEXUAL DAS MULHERES ACABOU SENDO PROLONGADA PELO AUMENTO DO SEU PODER ECONÔMICO E POLÍTICO?

GAIL – O maior poder feminino criou mais oportunidades e abriu um leque de opções para as mulheres que se encontram no que eu chamo de segunda vida adulta. Elas passaram a escolher sem culpa. Por exemplo, as que estão em casamentos infelizes e sexualmente vazios tendem a tomar a iniciativa de pedir a separação e o divórcio na meia-idade. E isso por quê? Porque podem. Estão trabalhando, tomando conta de si mesmas, algumas voltam a estudar para se tornar mais aptas no mercado de trabalho. Percebem, então, que existem várias estações a percorrer. Descobrem que vão ter mais tempo disponível a partir dos 50 anos do que tiveram na primeira vida adulta. Elas pensam: "Vale a pena investir em mim e, se eu me cuidar, também vai ser melhor para os que me cercam.

CLAUDIA – ESSAS MULHERES, QUE TOMARAM A INICIATIVA DE SE SEPARAR, TÊM MAIS FACILIDADE EM TRAVAR NOVOS RELACIONAMENTOS?

GAIL – É curioso, mas não botavam muita fé nisso. Acreditavam que iriam ficar sozinhas pelo resto da vida. Mas o desgaste no casamento as levou a arriscar. E, então, surpresa! De repente, deram-se conta de que o mundo está cheio de homens, homens com quem cruzam no supermercado, no cinema, numa livraria e que querem conversar, flertar, sair com elas. Isso ocorre porque finalmente abriram os olhos e mudaram de atitude. É como se levassem um sinal luminoso na testa com as palavras "livre, disponível, desimpedida". E, dessa maneira, surgem as oportunidades.

CLAUDIA – AS SUAS PESQUISAS E AS VIAGENS PARA PROMOVER O LIVRO REVELARAM HOMENS INTIMIDADOS PELA NOVA MULHER DE MEIA-IDADE?

GAIL – Não encontrei nenhuma hostilidade nem intimidação por parte dos homens com quem conversei. É outra surpresa, uma boa surpresa. Cheguei a ouvir casos como o de um sujeito que ligou para o programa de rádio em que eu estava sendo entrevistada e disse: "Minha mulher tem 58 anos e está a mil". Ele confessou que comprou um carrão porque queria exibir mais masculinidade e acompanhar o ritmo da esposa. Quando os homens aceitam a mulher cheia de energia, eles se sentem mais à vontade para procurar hobbies e paixõ.

CLAUDIA – VOCÊ DIZ QUE AS MULHERES CADA VEZ MAIS TÊM FANTASIAS COM RAPAZES MAIS JOVENS. É SABIDO QUE OS HOMENS NÃO SE IMPORTAM EM NAMORAR UMA GAROTA IMATURA SE FOR BONITA. A MULHER NÃO COSTUMAVA SER MAIS SELETIVA?

GAIL – Os homens, em geral, gostam de exibir uma mulher mais jovem, a mulher-troféu, com um corpo lindo. Já as mulheres que eu entrevistei não estão à procura do homem-troféu. No entanto, elas buscam divertimento, romance, paquera, companheirismo e bom sexo. Por outro lado, não exigem um intelectual como parte do pacote. Acredito que homens um pouco mais jovens se sentem realmente atraídos por uma parceira que já acumulou experiências e não tem medo da competição. Além disso, uma mulher glamorosa e bem relacionada pode mesmo significar uma grande vantagem para um homem inexperiente.

CLAUDIA – NÃO É UMA IRONIA AS MULHERES TEREM HOJE UMA VIDA SEXUAL MAIS LONGA, E A MÍDIA PROMOVER TANTO A JUVENTUDE E UM FÍSICO IMPOSSÍVEL DE MANTER?

GAIL – Trata-se de um aspecto quase esquizofrênico da sociedade. A nova mulher de meia-idade é, como costumo dizer, "mais temperada". Ela pode ser doce, apimentada, efervescente... Frequenta a academia e possui um corpo bem melhor do que o da geração da minha mãe. Milagres, porém, não existem. Aí, você vê um anúncio de roupas para mulher madura e quem é a modelo? Sarah Jessica Parker, de SEX AND THE CITY! Assim também não dá. A moça é dez, 15 anos mais nova do que a pessoa que quer representar. Essa dupla mensagem vai mudar, sabe por quê? Porque as mulheres têm maior poder aquisitivo na meia-idade. À medida que elas vão avançando, vão controlar mais o mercado.

CLAUDIA – EU JÁ OUVI ALGUMAS MULHERES DE MAIS DE 70 ANOS, VIÚVAS OU DIVORCIADAS, AFIRMAREM QUE ESTÃO SOZINHAS PORQUE OS HOMENS DA IDADE DELAS SÃO CHATOS.

GAIL – É verdade, também costumo ouvir muito essa queixa. Além de chatos, eles estão mais cansados. Alguns chegam a desistir da vida. Uma vez aposentados, perdem o senso de identidade. Por isso, eu repito, às vezes um homem um pouco mais novo, com mais energia, pode ser o parceiro ideal.

CLAUDIA – A LONGEVIDADE VAI TRAZER SOLIDÃO PARA AS MULHERES?

GAIL – Depende do que você entende por solidão. Um denominador comum entre as mulheres que entrevistei é a resistência a casar de novo. Elas querem namorar, ter várias experiências amorosas, mas desejam manter certa liberdade para viajar com as amigas, por exemplo. E têm horror à síndrome do "o que tem para jantar?" Mais tarde, se a relação se prolongar e for apoiada pela amizade, aí elas levam em consideração a possibilidade de um novo casamento.

CLAUDIA – QUAL A IMPORTÂNCIA DO VIAGRA E OUTRAS DROGAS PARA O SEXO NA MEIA-IDADE?

GAIL – Obviamente, o Viagra é importante para homens com problemas de ereção. A química, porém, não é tudo. O fator mais decisivo foi as mulheres terem se convencido de que a vida não acaba aos 50. Elas continuarão à procura de romance, de satisfação sexual e profissional e viverão mais e melhor. Isso, sim, é o combustível da mudança. E os homens vão nos seguir, porque fomos nós que demos a guinada. Agora, como explico no meu livro, também é importante para as mulheres que sentem dor na relação sexual ou que estão sofrendo perda de libido usar uma pomada vaginal de estrogênio. Eu recebi muitas mensagens sobre o assunto no meu website, porque, por incrível que pareça, uma solução tão simples não era bem conhecida.

CLAUDIA – NO LIVRO, VOCÊ CONTA A HISTÓRIA DA ENTREVISTADA QUE LIBEROU GERAL QUANDO APRENDEU A DANÇAR TANGO: FOI PARA BUENOS AIRES E TEVE UM CASO COM UM ARGENTINO FOGOSO. NOVA YORK É ÁGUA FRIA PARA O ROMANCE?

GAIL – A cidade não ajuda em nada a solteira de meia-idade a achar parceiros, a não ser que ela vá procurá-los na internet. Essa é uma boa saída. Você sabia que as mulheres acima dos 50 anos formam o maior grupo de novos membros de portais de encontros, como o match.com? Aqui os homens são muito ambiciosos, preocupados em subir profissionalmente e não prestam tanta atenção nas mulheres. Frequentar bares não é uma opção muito animadora a partir de certa idade. Deixa contar o que eu ouvi de uma entrevistada. Ela confessou que era duro ser rejeitada depois dos 50, mas, ao mesmo tempo, disse: "Perder um homem não é um golpe devastador. Eu guardo essa expressão para coisa séria, como câncer". Aí está a visão da mulher madura.

CLAUDIA – O QUE VOCÊ RECOMENDARIA A UM CASAL QUE QUER PROLONGAR A VIDA SEXUAL, MAS SOFRE O DESGASTE INEVITÁVEL DEPOIS DE MUITOS ANOS DE RELACIONAMENTO?

GAIL – Em primeiro lugar, eu sugiro que eles façam alguma coisa meio perigosa juntos. Nada como a ajuda mútua numa situação de risco para trazer emoções. Depois, assim que o último filho ou filha for embora, cursar a universidade, recomendo umas férias maravilhosas. Se a química entre os dois existiu um dia, ela voltará. Por esse motivo é que vemos casos de pessoas que redescobrem um namorado ou namorada da juventude. Finalmente, aconselho que cada parceiro assuma a iniciativa, uma vez por semana, de organizar uma noite devotada ao outro. Pode criar o clima em casa mesmo, na base de um jantar com vinho e luz de velas, ou escolher um bom restaurante. Mas é importante que o casal se reveze e que não seja sempre o homem ou a mulher a inventar o programa. Na semana seguinte, trocam-se os papéis.

Prazer não tem idade

Durante uma palestra sobre saúde feminina em São Paulo, o doutor Drauzio Varella recebeu uma inesperada salva de palmas do público, formado por 450 mulheres com mais de 40 anos. Isso porque afirmou que, do ponto de vista médico, elas poderiam manter a atividade sexual até o fim da vida. Varella transformou o assunto numa crônica de jornal revelando que a plateia feminina não estava interessada em discutir doenças, e sim em manter a libido em alta. "A ideia de que sexo acaba na velhice é um tabu, não tem base científica", confirma o ginecologista Eliezer Berenstein. Segundo ele, além de proporcionar prazer, o sexo na pós-menopausa faz bem à saúde, melhorando a circulação, a respiração, o metabolismo e os batimentos cardíacos. "Embora não seja ginástica, a relação equivale a uma caminhada leve", diz. Além disso, o contato íntimo mantém os sentidos em alerta, produzindo estrógeno, que beneficia as funções cerebrais, como a memória e a capacidade de cognição. Enfim, o tesão é um santo remédio e funciona como um antidepressivo natural, pois aumenta o nível de serotonina e endorfina no organismo – neurotransmissores associados ao prazer e à criatividade. Berenstein lembra ainda que a sexualidade não se resume à área genital. Os abraços e toques carinhosos regulam a oxitocina, hormônio produzido pela hipófise, responsável pela criação e manutenção dos vínculos amorosos – é a mesma substância que alimenta a paixão entre mães e bebês na fase da amamentação. Para o médico, não existe contraindicação para o sexo depois dos 50, pelo contrário: "Como dizia a atriz Jeanne Moreau: 'A idade não protege contra o amor. Mas o amor protege contra a idade' ".



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